Quando os pais se separam
A separação dos pais será recebida pelos filhos de maneiras diferentes. É comum que, antes de tomada da decisão final, a família viva momentos não agradáveis de convivência, como brigas constantes e, em situações extremas, casos de violência psicológica e física. Estudos comprovam que essa tensão é percebida até mesmo pelos bebês.
Os pequenos, além do choro, exprimem estresse ao se agitarem mais e na elevação dos batimentos cardíacos e o aumento da pressão arterial. Já as crianças em idade pré-escolar são as mais atingidas com a separação dos pais, uma vez que seu desenvolvimento cognitivo ainda não lhes permite compreender de fato o que está acontecendo.
- Bebês de até dois anos reagem demonstrando medo excessivo em situações do cotidiano e, em alguns casos, certa regressão no desenvolvimento, como urinar na cama, por exemplo.
- As crianças na faixa de quatro a cinco anos fantasiam a separação como algo temporário, acreditando na possibilidade que os pais voltem a viver juntos em um curto período de tempo. Essa ilusão ocorre em função da falta de compreensão por parte da criança do que seria um rompimento definitivo. Afinal, nessa fase, todas as brigas entre crianças, acabam sempre com um pedido de desculpas e a reconstrução da amizade.
- Entre os cinco e seis anos, os pequenos tendem a acreditar que são os verdadeiros culpados pela separação dos pais. Creem que a separação se deve em razão de alguma falha de comportamento ou desobediência em relação às normas. Essa sensação de responsabilidade e de culpa pode, inclusive, apresentar atitudes de autopunição na tentativa de compensar a falha.
- A partir dos sete anos, quando já estão em idade escolar, as crianças compreendem melhor os problemas e as razões que levaram os pais a se separar, mas sofrem com a sensação de abandono, o que, muitas vezes, pode gerar sentimentos de raiva.
Com atitudes impulsivas que demonstram ansiedade, a criança dessa faixa etária pode, ao mesmo tempo, demonstrar dependência excessiva por sentir-se carente. Rendimento escolar deficiente e atitudes rebeldes podem ser comportamentos tanto nessa idade quanto durante a adolescência.
Quando a separação dos pais acontece durante a adolescência dos filhos, o amadurecimento deles e a formação natural de identidade típica dessa idade podem ficar prejudicados. Por isso, é possível que ocorra um sentimento de não pertencimento àquele grupo de amigos, podendo surgir sinais de isolamento e de autocontrole excessivo. Essas reações são consequências da tentativa de esconder sensações de vergonha, de diminuir a ansiedade e de testar os limites da nova situação familiar.
Uma das reações mais complicadas entre os adolescentes de pais separados é o questionamento da autoridade familiar. Em situações extremas, podem surgir indícios de depressão, níveis elevados de rebeldia e abuso de álcool e de drogas, bem como precocidade sexual com a finalidade de encontrar segurança em um parceiro.
É preciso compreender que o período de adaptação a esta nova condição dura, geralmente, um ano. Durante este tempo, em qualquer uma das idades do filho, determinadas atitudes devem ser toleradas e outras negociadas, sem nunca deixar de estabelecer limites.
Crianças e adolescentes com pais separados desenvolvem uma maior capacidade adaptativa ante toda e qualquer mudança que possa vir a se apresentar futuramente em suas vidas. Já os filhos menores podem apresentar dificuldades em relacionamentos no futuro. Isso pode acontecer devido à internalização do abalo precoce do lar, quando ainda não tinham bagagem emocional suficiente para compreender a situação.
Independente da idade, o mais importante é sempre conversar com os filhos sobre a decisão tomada. Usando uma linguagem adequada para cada idade, a conversa deve ser franca e direta. É importante deixar claro que o filho continua sendo a parte mais importante para ambos e que, apesar de tudo, ele sempre encontrará apoio nos dois.
Se houver dificuldade de expressão pela parte do filho em admitir as próprias frustrações, pode ser um incentivo para os pais tomarem a iniciativa de um diálogo. Se isso não funcionar, dê tempo a ele. Se, e quando achar necessário, o próprio filho procurará os pais para conversar. Para uma convivência harmoniosa e com o mínimo de sofrimento, os pais separados não precisam ser amigos, mas devem agir com cordialidade diante e para com os filhos. Em muitos casos, o acompanhamento psicológico ameniza a ansiedade e ajuda na construção de uma visão otimista sobre os acontecimentos.
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